Estou postando de um lugar onde não possível publicar o link do filme sobre o qual vou falar, mas recomendo que, antes de continuar a leitura, assista, no YouTube, o vídeo "Eu não quero voltar sozinho".
Hoje, o site AC 24 horas publicou uma matéria afirmando que "Eu não quero voltar sozinho", eleito melhor filme pelo Festival de Paulínia, foi CENSURADO numa escola em Rio Branco, capital do Acre. Isso aconteceu por que “a exibição foi levada ao conhecimento de líderes religiosos, que pressionaram políticos do estado para proibir não só a exibição do filme, mas ocasionar o cancelamento do Cine Educação. O projeto é realizado em diversos locais do país resultante de parceria da Cinemateca Brasileira, a consultoria Via Gutenberg e as secretarias estaduais.”
Confesso que estou com um nó na garganta. Mas, não é de tristeza, é de raiva.
“Este é o segundo episódio recente de um projeto educativo organizado, em parte, pelo governo, que é afetado por lobby de setores religiosos. No fim de maio, o Kit Anti-Homofobia, materiais impressos e em vídeo que seriam distribuídos a estudantes para orientar como lidar com a diferença e promover o debate em torno da sexualidade, foi cancelado por pressão da bancada evangélica no Congresso. À época, os deputados ameaçaram pressionar o já ameaçado ministro da Casa Civil Antonio Palocci, às voltas com suspeitas de enriquecimento ilícito, se o Kit Anti-Homofobia não fosse suspenso.”
Aogra, a cena se repete e o cenário escolhido é o ambiente onde a liberdade de expressão e a discussão sobre assuntos importantes como esse deveriam ocupar o palco central.
A nota enviada ao site pelo diretor Daniel Ribeiro e pela produtora Diana Almeida, diz tudo.
Dei destaque a algumas partes que merecem a devida atenção. Mas, não recebem...
“Queridos amigos e colegas,
No início da semana recebemos a notícia de que a exibição do curta Eu Não Quero Voltar Sozinho, como parte do programa Cine Educação, havia sido censurada no Acre.
O programa Cine Educação, uma parceria com a Mostra Latino-Americana de Cinema e Direitos Humanos, tem como objetivo "a formação do cidadão a partir da utilização do cinema no processo pedagógico interdisciplinar" e disponibiliza diversos filmes cujos temas englobem os direitos humanos, de modo que professores escolham quais são mais adequados para serem trabalhados em aula.
Na semana passada, no estado do Acre, uma professora escolheu o curta Eu Não Quero Voltar Sozinho e exibiu-o para seus alunos. Para aqueles que não conhecem, a trama narra a história de Leonardo, um adolescente cego que, ao logo do filme, vai se descobrindo apaixonado por um novo colega de sala.
Alunos presentes na exibição confundiram o curta metragem com o "kit anti-homofobia" e levaram a questão aos líderes religiosos, que mobilizaram políticos da região com o intuito de proibir o projeto Cine Educação como um todo. Nenhum desses representantes públicos deu-se ao trabalho de ir atrás da verdade e descobrir que se tratava de um programa pedagógico com o intuito de levar o debate sobre direitos humanos para a sala de aula. Mais uma vez no Brasil, a educação perde a batalha contra o poder assustador das bancadas religiosas e conservadoras.
Neste momento, o programa Cine Educação está paralisado. Enquanto isso, os secretários de Educação e de Direitos Humanos do Acre estão articulando com o governador a possibilidade de garantir sua continuidade, enquanto os líderes evangélicos forçam o cancelamento definitivo do programa. Pelo que sabemos, mesmo que o programa seja reativado, o curta Eu Não Quero Voltar Sozinho será excluído do catálogo e não mais ficará disponível para que professores o utilizem no debate de questões que envolvem algo tão elementar quanto a sexualidade humana e tão importante quanto a deficiência visual.
De forma arbitrária, em uma república federativa cuja Constituição atesta um Estado laico, a sociedade está sendo privada de promover debates. Como pretendemos que adolescentes consigam respeitar a diversidade e formem-se cidadãos lúcidos, pensantes e ativos se informação, arte e cultura (sem qualquer caráter doutrinário) lhes são negadas?
Eu Não Quero Voltar Sozinho não é um filme proselitista, tampouco ergue bandeiras de nenhuma natureza. É apenas uma obra de ficção amplamente premiada em festivais de cinema no Brasil e no exterior, cujos predicados artísticos e humanos transcendem qualquer crença. Ademais, se assuntos referentes à orientação sexual dos indivíduos e seus respectivos direitos civis está na pauta do Supremo Tribunal de Justiça e do Congresso Nacional, por que não debatê-los em sala de aula? Que combate sombrio é esse, que reacende a memória de um obscurantismo Inquisidor?
Produtores do Eu Não Quero Voltar Sozinho
Daniel Ribeiro e Diana Almeida”