segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

"Passa ou repassa" e a (des) valorização do conhecimento

Outro dia, mais precisamente no domingo, me peguei assistindo a tv aberta. Não que não seja chegado a ela, pelo contrário. Como para boa parte dos brasileiros nascidos na década de 80, cresci vendo muita televisão, recebendo sua influência, aplaudindo e odiando heróis animados, vendo o que, hoje, muitos consideram apenas uma comportamento retrô.
Nesse dia ao qual me refiro, pude assistir a um quadro do Domingo Legal, apresentado atualmente por Celso Portiolli, chamado "Passa ou repassa". Nele, duas equipes se enfrentam, respondendo, em boa parte do tempo, a perguntas dos mais variados tipos e temas, alguns bem pertinentes e atuais, outros que me fizeram lembrar dos conhecimentos tradicionais ensinados na escola cotidianamente. Esse quadro foi criado na década à qual me referi, a de 80, e apresentado inicialmente por Silvio Santos, depois por Gugu, Angélica e alguns outros, sempre com a mesma fórmula: por em prova o conhecimento dos participantes.
No que assisti, duas equipes totalmente opostas disputavam. Um resumo. Uma delas, composta apenas por mulheres, jovens, que ao serem questionadas pelo apresentador logo disseram seus graus de instrução. Quase que absolutamente todas tinha algum tipo de formação superior e demonstravam desenvoltura admirável em questões bem específicas de matérias como química, biologia e matemática. Do lado oposto, a outra equipe, formada apenas rapazes, aos quais foi destinada a mesma pergunta, mostraram inquietação e constrangimento ao responderem, quase que de forma uníssona: 'sou bailarino', ou seja, "não estudei". (Em tempo: não estou afirmando que bailarinos não estudem, longe de mim. Sei do esforço desses profissionais da arte em vários aspectos. Me atenho a uma questão específica, a qual se esclarece a seguir).
Acredito que você já sabe onde quero chegar. Não é minha intenção discutir a profissão dos jovens que vi na televisão, nem sua origem ou destino - embora saiba que isso está relacionado diretamente com o que pretendo observar -, mas "analisar" a reação do apresentador e de algumas pessoas do auditório quando ouviram as respostas dos participantes à pergunta que lhes foi dirigida. Ao ouvirem "formada em...", pouquíssimos aplaudiram, como se isso não fosse importante (e, de fato, não é mais. Estou chegando onde queria). Inversamente, ao ouvirem "dançarino", a reação foi histérica, como se tivessem ouvido... Nem sei.
Nesse instante, me assustei. Me perguntei na mesma hora: em que ano estamos? Que geração é essa que não liga mais pra conhecimento, estudo e afins? Lembrei, pra ir direto ao ponto, que estamos na geração das bolsas, da exacerbação do jeitinho, da desvalorização do mérito, da luta e da conquista. Hoje, o jovem cresce, pensando não ser mais necessário enfrentar desafios, dedicar-se aos estudos e à produção do conhecimento. Sabe que modo lícito (ou ílicito) vai conseguir se dar bem na vida, sem precisar do muito que se consegue nos bancos escolares (Fui piegas?). Sem querer incorporar elementos bíblicos nesse texto (mas, já incorporando), se esquece de que seu futuro, o que colherá amanhã, depende exclusivamente do que planta hoje. Pior: mais desalentador é saber que os frutos dessa infeliz plantação começaram a ser colhidos agora, estão no começo, a grande safra ainda está por vir.
Não falo aqui sem conhecimento de causa: sou professor e vejo, para minha infelicidade, que é exceção - quando deveria ser regra - um aluno cujos interesses são livros, a biblioteca, o Google. E não é culpa da escola! Convencionou-se atribuir apenas às instituições de ensino todo o atual e evidente fracasso estudantil. Engodo! A geração de hoje - e não estou tendo um ataque de saudosismo - perdeu-se entre o que recebe de mão beijada e o que vem de bandeja, oferecido especialmente pelos governos.
Não é que eu seja contra os programas de distribuição de renda, para ser mais específico. Eles tiraram e tiram muita gente da miséria. Para muitos que os recebem, é a única forma de sobreviver, já que a fome não espera por um diploma, mas é certo que (opinião minha) eles influenciam mal a juventude, pois não os vejo despertando interesse pelo sucesso trazido pelo labor e pelo esforço pessoal.
A escola recebe hoje um bando de gente sem perspectiva e já com alguma formação de o que o futuro é um auxílio estatal, gente esta para quem estudar não passa de uma mera obrigação, um passatempo, um fardo.
Eu poderia aqui apontar inúmeros caminhos para reverter essa quadro. Não, não sou o dono da verdade, nem intenciono, mas acredito ser importante que pensemos no rumo que o Brasil, através de seus jovens, está tomando. Antigamente (nada de saudade!), as pessoas queriam ser. Hoje, querem o que?

Postei no Facebook nesse mesmo domingo, um pequeno resumo de tudo o que disse aqui, e com isso termino: "Ver o "Passa ou repassa" na tv (quadro do Domingo Legal) desperta, em mim, não apenas sentimentos nostálgicos, mas a lembrança de um tempo em que o mérito e o conhecimento eram reconhecidos nesse país, pois tinham valor. Hoje, temos as  (só) as bolsas."
Repito: pensemos. 

sábado, 6 de dezembro de 2014

Relacionamentos amorosos: melhor não tê-los? (Ou, Quantas perguntas sobre o amor)

Acredito que o real motivo que me leva a escrever esse texto seja a curiosidade de como o lerei no futuro. Eu sempre volto aos meus escritos  - e é possível que muita gente que escreve faça isso - e tento me lembrar do que me movia naquela hora para escrever, que sentimentos, fatos ou memórias me incentivam a lançar letras sobre o papel. Nesse momento, isso se repete, mas, agora, com um preocupação ainda mais futura. Explico: no momento em que escrevo, tomam conta de mim os mais variados tipos de sentimentos, que vão de dor à culpa, passando pela decepção e pelo desejo gritante de recomeçar. Nisso mora o problema: recomeçar o que? A vida não para quando acaba uma "relação de amor", ou melhor, ela nunca começa quando encontramos a tal "metade da laranja", "a tampa da panela", "o coberto de orelha" e todos esses nomes estranhos, dados à pessoa que pode ser chamada apenas de "companheiro (a)". A vida é, sempre foi e vai continuar sendo antes do começo e depois do fim... A pergunta que fica é: por que dói tanto? Não me atrevo a responder. Sei, contudo, que nunca há recomeços, há, de fato, eternos prosseguimentos, no quais podemos contar apenas com aquilo que sobrou ou com o que ainda vamos colher. 
Mas, repito: quero mesmo é saber como vou estar daqui uns dias, meses e semanas, depois que o turbilhão de sensações que me invadem se esvaírem e forem levadas pelo tempo que, hoje, não parece muito ser meu amigo. 
Não é fácil se relacionar com alguém. Na verdade, não é fácil conviver com ninguém. A maioria das pessoas que conheço abrem mão de muito do que pensam e mascaram muito do que são em nome da tal convivência e sempre me pergunto se vale mesmo a pena. Digo isso porque relacionamento, seja amoroso ou simplesmente fraternal, é a coisa mais abstrata e instável possível. As pessoas gostam umas das outras e deixam de gostar quase que na velocidade da luz. A amizade e o amor de agora não serão os mesmo daqui cinco, dez minutos. Com o advento e a popularização da internet, percebe-se, as amizades se desfazem pelo simples fato de não ter uma mensagem respondida prontamente num aplicativo virtual de comunicação  ou quando o outro se sente aborrecido ao ler algo divergente, escrito na página da rede social do amigo. 
Mas, voltemos ao tempo em que as pessoas olhavam mais nos olhos umas das outras. Era difícil, também, manter viva a chama de uma relação? - E me refiro aqui à amorosa, pra não divagar tanto e "afunilar mais o assunto". Me parece que sim e, olhando para trás, vejo que o medo e a incerteza são os grandes responsáveis por isso. E eis aí uma coisa que todo mundo sente: medo. Hoje, por exemplo, parece que estou sentindo todos os medos do mundo, mesmo sabendo que já passei por situações mais desafiadoras e dolorosas. Achar, nesse instante, um ponto de instabilidade se apresenta como um desafio novo. O medo é sempre inimigo de qualquer relação. Mais felizes, observo, são aqueles que ignoram esse inimigo invisível, mas presente, e se lançam, sem reservas, na relação. Como conseguem?
É certo que ninguém vive sozinho. Precisamos de amigos, parceiros, cúmplices, quase que o tempo todo, pois só assim, dentre outras coisas, formaremos nosso caráter e conheceremos nossos limites e condições. Mas, para que um "amor"? Onde surgiu a necessidade descontrolada de amar alguém, especialmente se o "amor" sempre acaba? 
Eu queria escrever um texto cheio respostas, mas, contando, já fiz mais de cinco perguntas e passei longe de responder a principal... Não importa. Procure responder pra você. Daqui um tempo, eu vou voltar aqui, ler tudo e, possivelmente, já terei as respostas que preciso. Se não as tiver, espero, ao menos, que as muitas perguntas não sejam mais tão relevantes.