
Eu já havia falado sobre isso numa postagem anterior, mas, sinceramente, as coisas não mudam. Não que eu espere que um texto meu revolucione o mundo e mude a cabeça das pessoas, mas me assusto quando percebo que evoluímos tanto em tantos aspectos e estamos estagnados no trato com o OUTRO, isto é, no respeito pelo PRÓXIMO. Antes de expressar minha indginação, quero por aqui o trecho de um artigo escrito por João Silvério Trevisan pubilcado na revista G Magazine que trata também desse assunto. NÃO LEIA SE VOCÊ FOR FROUXO! Diz ele:
ESTAMOS DE SACO CHEIO, SENHOR JUIZ!
Mais de uma vez vi cena parecida, mas ela sempre me choca. Um bando de meninos de rua, deitados na calçada em frente à praça da República, gritava chacotas para três bichinhas que passavam tranquilas por ali. Minha pergunta é sempre a mesma: o que leva párias sociais a se sentirem superiores a uma pessoa só por ela ser supostamente homossexual? Por que alguém tão humilhado pela sociedade se sente no direito de humilhar pessoas homossexuais? Por que, não importa o que possamos ser, o fato de ostentarmos nossa homossexualidade faz de nós seres despreziveis aos nossos próprios párias? [...] O caso dos moleques de rua que faziam gozação às bichinhas não é isolado nem ocorre por estarem alijados das regras sociais. [...] Em agosto ultimo, a Revita Folha publicou uma materia sobre pesquisa na qual a grande maioria dos paulistanos entrevistados aprovava a presença de homossexuais em várias profissões, de presidente da república a jogador de futebol, passando por pastor evangélico a padre católico. No entanto, o teor da matéria está em total contradição com as ilustrações aberrantes veiculadas nela: cada profissão era ilustrada com um bonequinho desmunhecando de maneira acintosa. O ponto alto era um jogador afetadíssimo, com uma bunda imensa e peluda sentado em cima de uma bola. Na melhor da hipóteses, alguém desenhou e alguém publicou achando tudo uma brincadeira inocente, como se fosse ainda possivel não se dar conta de que um grande número de brasileiros estava sendo vítima de humilhação e chacota. Quando (sic) o juiz Manoel Maximiliano Junqueira Filho, em julho de 2008, mandou arquivar a queixa-crime apresentada pelo jogador Richaryson contra um cartola que o chamou de homossexual justificando que ele, o juiz, considera o futebol um “jogo viril, varonil, não homossexual ”. Senhor juiz, ser homossexual é um dos inúmeros componentes da personalidade e maneiras de ser – assim como se é branco ou negro, gordo ou magro, com uma profissao X ou Y. Por que o preconceito insite em tomar a parte do todo? Por que um homem que tem talento futebolístico não pode seguir essa profissão, ao preferir sexualmente outros homens? Em que sentido o que eu faço na cama irá interfirir na minha profissão? Que lógica existe nisso? Por que um homem perde sua virilidade se beijar outro homem, se gozar com ele, se der o cú pra ele? Cito Jean Genet, quando dizia que um homem que beija outro homem é homem ao duplo. Com base em que dado real alguém ainda pode pensar que que dar o cú leva a perder a virilidade? Será que o esfíncter que relaxa tem alguma conexão secreta com os músculos da munheca e torna a voz mais aguda? Não há nenhuma lista de caracteríscas obrigatórias que definem a masculinidade.” (...)
Ufa! É um tapa na cara. Quero adiantar que não estou levantando nenhuma bandeira colorida ou seja lá de que cor,nem me atendo a questões meramente sexuais, mas estou DE SACO CHEIO com tanto retrocesso mental e tanta mesquinharia religiosa e alienante espalhada por ai. Até quando vamos fechar o olhos para o fato óbivo de que somos diferentes o que, no entanto, não nos inviabiliza ou superiora diante uns dos outros. Ser crente, católico, macumbeiro ou ateu nada quer dizer quando olhamos de cima. De cima somos todos iguais, mas teimam em nivelarmos por baixo, fixando o olhar no que é ruim como isso fosse a coisa mais importante do mundo.
Ouvía outro dia que o meu Estado se converterá macissa e brevemente a uma determinada religiao. Deus nos livre disso! Se isso acontecer viveremos de novo a Idade das Trevas ou o tempo da Inquisição em que era proibido pensar, cogitar, dizer algo que fosse diferente de quem ditava o que era CERTO e ERRADO, sob pena de morte cruenta.
O preconceito é um tipo de assassinato doloso: ele esmaga pessoas e idéias sem sentir nenhuma compaixão. Eu me assusto com isso, espero que um dia acabe, vou continuar escrevendo sobre e CONTRA ele.

João Silvério Trevisan (Ribeirão Bonito, 23 de junho de 1944) é escritor, jornalista, dramaturgo, tradutor, cineasta e ativista GLBT brasileiro.