Outro dia, mais precisamente no domingo, me peguei assistindo a tv aberta. Não que não seja chegado a ela, pelo contrário. Como para boa parte dos brasileiros nascidos na década de 80, cresci vendo muita televisão, recebendo sua influência, aplaudindo e odiando heróis animados, vendo o que, hoje, muitos consideram apenas uma comportamento retrô.
Nesse dia ao qual me refiro, pude assistir a um quadro do Domingo Legal, apresentado atualmente por Celso Portiolli, chamado "Passa ou repassa". Nele, duas equipes se enfrentam, respondendo, em boa parte do tempo, a perguntas dos mais variados tipos e temas, alguns bem pertinentes e atuais, outros que me fizeram lembrar dos conhecimentos tradicionais ensinados na escola cotidianamente. Esse quadro foi criado na década à qual me referi, a de 80, e apresentado inicialmente por Silvio Santos, depois por Gugu, Angélica e alguns outros, sempre com a mesma fórmula: por em prova o conhecimento dos participantes.
No que assisti, duas equipes totalmente opostas disputavam. Um resumo. Uma delas, composta apenas por mulheres, jovens, que ao serem questionadas pelo apresentador logo disseram seus graus de instrução. Quase que absolutamente todas tinha algum tipo de formação superior e demonstravam desenvoltura admirável em questões bem específicas de matérias como química, biologia e matemática. Do lado oposto, a outra equipe, formada apenas rapazes, aos quais foi destinada a mesma pergunta, mostraram inquietação e constrangimento ao responderem, quase que de forma uníssona: 'sou bailarino', ou seja, "não estudei". (Em tempo: não estou afirmando que bailarinos não estudem, longe de mim. Sei do esforço desses profissionais da arte em vários aspectos. Me atenho a uma questão específica, a qual se esclarece a seguir).
Acredito que você já sabe onde quero chegar. Não é minha intenção discutir a profissão dos jovens que vi na televisão, nem sua origem ou destino - embora saiba que isso está relacionado diretamente com o que pretendo observar -, mas "analisar" a reação do apresentador e de algumas pessoas do auditório quando ouviram as respostas dos participantes à pergunta que lhes foi dirigida. Ao ouvirem "formada em...", pouquíssimos aplaudiram, como se isso não fosse importante (e, de fato, não é mais. Estou chegando onde queria). Inversamente, ao ouvirem "dançarino", a reação foi histérica, como se tivessem ouvido... Nem sei.
Nesse instante, me assustei. Me perguntei na mesma hora: em que ano estamos? Que geração é essa que não liga mais pra conhecimento, estudo e afins? Lembrei, pra ir direto ao ponto, que estamos na geração das bolsas, da exacerbação do jeitinho, da desvalorização do mérito, da luta e da conquista. Hoje, o jovem cresce, pensando não ser mais necessário enfrentar desafios, dedicar-se aos estudos e à produção do conhecimento. Sabe que modo lícito (ou ílicito) vai conseguir se dar bem na vida, sem precisar do muito que se consegue nos bancos escolares (Fui piegas?). Sem querer incorporar elementos bíblicos nesse texto (mas, já incorporando), se esquece de que seu futuro, o que colherá amanhã, depende exclusivamente do que planta hoje. Pior: mais desalentador é saber que os frutos dessa infeliz plantação começaram a ser colhidos agora, estão no começo, a grande safra ainda está por vir.
Não falo aqui sem conhecimento de causa: sou professor e vejo, para minha infelicidade, que é exceção - quando deveria ser regra - um aluno cujos interesses são livros, a biblioteca, o Google. E não é culpa da escola! Convencionou-se atribuir apenas às instituições de ensino todo o atual e evidente fracasso estudantil. Engodo! A geração de hoje - e não estou tendo um ataque de saudosismo - perdeu-se entre o que recebe de mão beijada e o que vem de bandeja, oferecido especialmente pelos governos.
Não é que eu seja contra os programas de distribuição de renda, para ser mais específico. Eles tiraram e tiram muita gente da miséria. Para muitos que os recebem, é a única forma de sobreviver, já que a fome não espera por um diploma, mas é certo que (opinião minha) eles influenciam mal a juventude, pois não os vejo despertando interesse pelo sucesso trazido pelo labor e pelo esforço pessoal.
A escola recebe hoje um bando de gente sem perspectiva e já com alguma formação de o que o futuro é um auxílio estatal, gente esta para quem estudar não passa de uma mera obrigação, um passatempo, um fardo.
Eu poderia aqui apontar inúmeros caminhos para reverter essa quadro. Não, não sou o dono da verdade, nem intenciono, mas acredito ser importante que pensemos no rumo que o Brasil, através de seus jovens, está tomando. Antigamente (nada de saudade!), as pessoas queriam ser. Hoje, querem o que?
Postei no Facebook nesse mesmo domingo, um pequeno resumo de tudo o que disse aqui, e com isso termino: "Ver o "Passa ou repassa" na tv (quadro do Domingo Legal) desperta, em mim, não apenas sentimentos nostálgicos, mas a lembrança de um tempo em que o mérito e o conhecimento eram reconhecidos nesse país, pois tinham valor. Hoje, temos as (só) as bolsas."
Repito: pensemos.
Nesse dia ao qual me refiro, pude assistir a um quadro do Domingo Legal, apresentado atualmente por Celso Portiolli, chamado "Passa ou repassa". Nele, duas equipes se enfrentam, respondendo, em boa parte do tempo, a perguntas dos mais variados tipos e temas, alguns bem pertinentes e atuais, outros que me fizeram lembrar dos conhecimentos tradicionais ensinados na escola cotidianamente. Esse quadro foi criado na década à qual me referi, a de 80, e apresentado inicialmente por Silvio Santos, depois por Gugu, Angélica e alguns outros, sempre com a mesma fórmula: por em prova o conhecimento dos participantes.
No que assisti, duas equipes totalmente opostas disputavam. Um resumo. Uma delas, composta apenas por mulheres, jovens, que ao serem questionadas pelo apresentador logo disseram seus graus de instrução. Quase que absolutamente todas tinha algum tipo de formação superior e demonstravam desenvoltura admirável em questões bem específicas de matérias como química, biologia e matemática. Do lado oposto, a outra equipe, formada apenas rapazes, aos quais foi destinada a mesma pergunta, mostraram inquietação e constrangimento ao responderem, quase que de forma uníssona: 'sou bailarino', ou seja, "não estudei". (Em tempo: não estou afirmando que bailarinos não estudem, longe de mim. Sei do esforço desses profissionais da arte em vários aspectos. Me atenho a uma questão específica, a qual se esclarece a seguir).
Acredito que você já sabe onde quero chegar. Não é minha intenção discutir a profissão dos jovens que vi na televisão, nem sua origem ou destino - embora saiba que isso está relacionado diretamente com o que pretendo observar -, mas "analisar" a reação do apresentador e de algumas pessoas do auditório quando ouviram as respostas dos participantes à pergunta que lhes foi dirigida. Ao ouvirem "formada em...", pouquíssimos aplaudiram, como se isso não fosse importante (e, de fato, não é mais. Estou chegando onde queria). Inversamente, ao ouvirem "dançarino", a reação foi histérica, como se tivessem ouvido... Nem sei.
Nesse instante, me assustei. Me perguntei na mesma hora: em que ano estamos? Que geração é essa que não liga mais pra conhecimento, estudo e afins? Lembrei, pra ir direto ao ponto, que estamos na geração das bolsas, da exacerbação do jeitinho, da desvalorização do mérito, da luta e da conquista. Hoje, o jovem cresce, pensando não ser mais necessário enfrentar desafios, dedicar-se aos estudos e à produção do conhecimento. Sabe que modo lícito (ou ílicito) vai conseguir se dar bem na vida, sem precisar do muito que se consegue nos bancos escolares (Fui piegas?). Sem querer incorporar elementos bíblicos nesse texto (mas, já incorporando), se esquece de que seu futuro, o que colherá amanhã, depende exclusivamente do que planta hoje. Pior: mais desalentador é saber que os frutos dessa infeliz plantação começaram a ser colhidos agora, estão no começo, a grande safra ainda está por vir.
Não falo aqui sem conhecimento de causa: sou professor e vejo, para minha infelicidade, que é exceção - quando deveria ser regra - um aluno cujos interesses são livros, a biblioteca, o Google. E não é culpa da escola! Convencionou-se atribuir apenas às instituições de ensino todo o atual e evidente fracasso estudantil. Engodo! A geração de hoje - e não estou tendo um ataque de saudosismo - perdeu-se entre o que recebe de mão beijada e o que vem de bandeja, oferecido especialmente pelos governos.
Não é que eu seja contra os programas de distribuição de renda, para ser mais específico. Eles tiraram e tiram muita gente da miséria. Para muitos que os recebem, é a única forma de sobreviver, já que a fome não espera por um diploma, mas é certo que (opinião minha) eles influenciam mal a juventude, pois não os vejo despertando interesse pelo sucesso trazido pelo labor e pelo esforço pessoal.
A escola recebe hoje um bando de gente sem perspectiva e já com alguma formação de o que o futuro é um auxílio estatal, gente esta para quem estudar não passa de uma mera obrigação, um passatempo, um fardo.
Eu poderia aqui apontar inúmeros caminhos para reverter essa quadro. Não, não sou o dono da verdade, nem intenciono, mas acredito ser importante que pensemos no rumo que o Brasil, através de seus jovens, está tomando. Antigamente (nada de saudade!), as pessoas queriam ser. Hoje, querem o que?
Postei no Facebook nesse mesmo domingo, um pequeno resumo de tudo o que disse aqui, e com isso termino: "Ver o "Passa ou repassa" na tv (quadro do Domingo Legal) desperta, em mim, não apenas sentimentos nostálgicos, mas a lembrança de um tempo em que o mérito e o conhecimento eram reconhecidos nesse país, pois tinham valor. Hoje, temos as (só) as bolsas."
Repito: pensemos.