Nesse último dia 15, não tive um dia muito bom: muita confusão, desencontros, uma verdadeira agonia. Achei que o dia nunca fosse terminar ou que terminaria como estava, instável. Mas, eis que encontro minha
irmã, irmã da minha alma, com quem tenho uma ligação que não consigo qualificar, que nada tem a ver com misticismo, simplesmente existe, é real. Nos vimos, ficamos juntos e suas palavras vinham como bálsamo na tentativa de curar as feridas até então abertas pelas circunstâncias daquele tenebroso dia. Todavia, continuava mal, pesado, sem ânimo. Eis que me aparece uma
amiga: pessoa amabilíssima, que não via havia um tempo, mas que se lembrou do meu nome e reacendeu a amizade construída num lapso temporal tão curto e jamais pensado. A noite se estendia e o peso sobre os meus ombros só aumentava, o que me fazia franzir a testa e recair os olhos. Vamos ver o
rio, diz a irmã. Concordamos todos prontamente! Eu, talvez mais que elas, precisava ouvir o som de suas águas correntes. Na verdade, olhar para ele me bastaria. Assim o fizemos: ficamos os três, a irmã, a amiga e eu a contemplar o caudaloso rio. Olhamos, ouvimos e falamos sobre o passado, sob

re aquela noite e eu, aos poucos, sem perceber, ia me esquecendo do mal fadado dia e o cansaço se afastava, então, de mim. De repente, um senhor de certa idade se aproxima de nós. Sem pedir licença, embora a gentileza e educação fizessem parte de sua postura – percebemos logo em seguida – iniciou um relato sobre o mesmo assunto do qual falávamos e nos brindou, por gestos finos, voz mansa e sobriedade invejável, com uma aula de história, de humanidade, de amor e de vida. Eu me perguntava: o que é isso, meu deus?! É um
boto. Não era! Mas, poderia ser, mesmo às avessas, porque sua intenção não era apenas galantear, mas dividir conosco sua alma tão pura e inteligente. Que noite era aquela? Onde estava a inquietação que me assombrava? O rio e tudo o que ouvia e vivia naqueles breve instantes transformaram a escuridão daquela noite. Simplesmente passou.
Nunca vou me esquecer. Creio em pouca coisa hoje, mas não posso mais duvidar de que é bom ter amigos, irmãos, lendas e noites... que libertam.

Esse senhor que aparece na foto, vestido de branco, chama - se Delfino Batista, 78 anos, nascido em Natal, RN. Vive no Acre há muitos anos, conhece esse Estado como poucos e pode falar horas sobre a sua historia sem cansar os ouvintes, com uma delicadeza e tranquilidade admirantes. Ele é o boto. Essa de vermelho chama-se Eline, professora, maranhense estava no Acre a trabalho. Simplesmente, incomparável. Ela é a amiga. A primeira, da esquerda para direita, chama-se Silvirlene, quem a conhece sabe. É a irmã.