domingo, 26 de julho de 2009

EXPOACRE 2009

Ontem, sábado, dia 25 de julho, abriram-se as porteiras da Expo-Acre com a tradicional calvagada. Donos de vastas terras bovinas, fazendeiros com suas famílias ricas e empresários ao galope do lucro exibiram as marcas da pecuária na avenida que leva o nome - que ironia! - Chico Mendes. Por essa avenida, jamais assistiremos ao desfile do seringueiro. Em seu lugar, o pecuarista, o dono da festa, atravessa Chico Mendes com seus cavalos, caminhões, quadriciclos e caminhonetes em nome de uma festa que não é popular, por isso o povo humilde, à margem da avenida, só assiste à opulência daqueles que ostentam poder. Pobre não desfila a cavalo. Quem conhece a Avenida Chico Mendes sabe que se trata de um corredor de bairros periféricos e, justamente através desse corredor, os ricos pavoneiam-se com seus chapéus caros, suas botas de couro, suas calças bem-justas com seus cintos decowboy. O pecuarista é country. Ele não tem nem o linguajar do homem do interior acriano. Nesse momento, à margem da avenida, os pobres do Taquari não desejam justiça social, mas tão-somente o desejo (reprimido) de consumir a moda country. Ricos não só exploram - seduzem.

Quando a Expo-Acre chega a cavalo, lojas de roupa não expõem a moda seringueiro em vitrinas de Rio Branco, mas a moda norte-americanizada do pecuarista country. Seringueiro não tem bens culturais que possam circular em forma de roupa. Seringueiro tem museu, símbolo de sua imobilidade cultural.
Por causa disso - e mais -, não existe a Expo-Acre do seringueiro e, se não existe, o seringueiro não desfila na Avenida Chico Mendes. O seringueiro não tem nada para mostrar, a não ser o seu museu, seu túmulo.

Muitos podem ver a Expo-Acre como uma festa - o deputado Moisés Dinis (
PC do B) a viu, por exemplo, como festa popular -, mas eu a vejo com o lugar onde se sepulta um outro mundo rural - o mundo rural do homem caipira, imagem oposta à do homem cowboy.

Em Xapuri, (cidade onde nasceu Chico Mendes, lembrado só quando convem) se o gado se alimenta em reserva extrativista, é porque os ideais de Chico Mendes pastam em uma reserva que leva seu nome. A festa do boi de rodeio não deixa de ser menos nociva do que um gado em uma reserva, porque, por meio dessa festa, sabemos, o pecuarista country não derruba a floresta, é verdade, mas substitui o homem rural caipira pelo homem rural das botas de couro, das calças com cinto e fivela, da música das duplas sertanejas. A Expo-Acre é um processo de aculturação do homem simples do interior, uma forma alegre de se esquecer do caipira.

Extraído do blog do Aldo

DIGO MAIS:

NÃO sou contra a nenhuma manifestação cultural, mas, a Expo-Acre (manifestação cultural?) é uma forma de esquecermos quem realmente somos, esquecer o que, ainda, representa Chico Mendes, esquecer que vivemos no meio da selva que, aos poucos, vai sendo destruída por causa da sede insaciável de alguns pecuaristas. Como diz o blogueiro Acreucho, quando chega essa data mesmo a maioria do peões não sabendo ao menos encilhar o cavalo, "as fantasias saem dos armários, as lojas se enchem de compradores, hávidos por comprar suas indumentárias para participar da festa."

É isso, uma fantasia, uma festa, onde poucos se divertem e muitos, mas muitos mesmo, sofrem.

3 comentários:

Rebeca Rocha disse...

Gostei de seu blogue. Decidi acompanhá-lo. Vejo que conhece Aldo Nascimento, fui sua aluna. É um prazer está aqui.

Meu blogue - http://omundoderebecarocha.blogspot.com/

Janisléia disse...

O pior é que está igual o ano passado.. Gente, nada de novo! Muita poeira no estacionamento do ROTARY... Bares, restaurantes, exposiçõe de carros. Na verdade, Concordo. E a cavalgada? Tão sem sentido. Bem, mas vai ver que tenha muito sentido para os participantes.. Pra mim... Acho que falta mais opções de lazer pra nós.
Quanto a Chico Mendes: Bem... acho que é a mesma questão dos indígenas... Seringueiro, indígena: o que sabemos sobre eles, na verdade? O que querem? Rsrsrs.. Será que os acrianos conhecem a vida do seringueiro e a do índio? NÃO CONHECE MESMO!!! Nem certos antropólogos, que vivem pesquisando por aí, conhecem!

Acreucho disse...

Chega a ser um paradoxo que, o Estado que “mais luta” pela preservação ambiental, pelo manejo sustentável e pelo não desmatamento, tudo isso teórica e virtualmente na cabeça de seus governantes, tenha uma das mais movimentadas e espetaculares, pelo menos para as nossas condições econômicas Exposições Agropecuárias do Brasil. A Expoacre 2009.