sexta-feira, 18 de setembro de 2009

EU NÃO SEI PORTUGUÊS

Como professora de língua portuguesa, frequentemente ouço as pessoas me dizerem que não sabem português e que têm vergonha de falar perto de mim, que devo saber a língua corretamente. Bem, primeiramente que não existe isso de falar a língua corretamente. Quer dizer, existe, sim. Falar a língua corretamente é seguir regras da língua que todos nós seguimos (quase todos, pois há exceções). Para mostrar o que estou dizendo, vou exemplificar com um trecho que seria algo incorreto desse ponto de vista.

Menino vem o casa da sua. (em vez de O menino vem da sua casa)

Isso seria um erro do ponto de vista da estrutura da língua! Coisas como “os menino”, “vende-se casas” e “nós foi” são considerados desvios de uma norma, e não um erro da língua.

Uma língua é uma estrutura muito complexa, de fato. Mas é uma estrutura complexa que ainda pequenos nós conseguimos apreender (excetuando-se alguns casos específicos) e reproduzir. Dizer que não sabe falar português porque não se sabe que a concordância do verbo ser com o seu predicativo não está perfeita é exagerar. Na hora de usar a língua para a comunicação, conseguimos nos comunicar muito bem, obrigada.

Ah, claro, existem as diferentes normas dentro da língua. Uma pessoa que tenha estudado até o nível superior não se comunica como alguém que não tenha ido à escola e não tenha hábito de leitura. Assim como uma pessoa do interior de São Paulo, trabalhador rural, de uma classe menos favorecida economicamente, não se comunica como alguém que more em zona urbana e que seja de classe média.

E, para que uma pessoa seja aceita socialmente em determinados círculos, ela precisa conhecer e usar essas diversas normas determinadas por fatores econômicos, políticos, etários, sexuais, regionais.

Enfim, é preciso entender que saber usar a língua portuguesa todos sabemos (salvo exceções de ordem cognitiva). É possível, contudo, que não conheçamos uma modalidade da língua chamada por muitos de norma culta. Mas daí afirmar que não conhecemos e não sabemos a nossa própria língua é exagerar e cair até mesmo em preconceito. E, convenhamos, não precisamos de mais preconceito do que os que já nos são tão conhecidos.

Por Marília de Melo Costa em eucritico.com.br

Um comentário:

Cristiane Carrillo disse...

De fato o texto é muito coeso... Expressa realmente que o não conhecimento da norma culta da língua portuguesa em nada implica afirmar não saber o "português".
A lingüística afirma que se houve comunicação é sinal que a língua admite tal possibilidade. Logo, ainda que determinada oração não esteja de acordo com a norma culta da língua portuguesa, se existir compreensão não esta de todo “errada”. Somos muitos críticos, muita das vezes. Devemos levar em consideração que vivemos em um país com uma cultura miscigenada, num país com disparidade econômica e social. Todos esses fatores são predominantes para uma diversidade muito grande dentro da própria língua.