LEGIÃO DA BOA VONTADE

Eles me ligaram. Do outro lado da linha uma voz doce e suave me convidava a doar um determinado valor que, segundo ela, ajudaria a alimentar pobres criancinhas com algumas latas de leite. Aceitei. A contribuição seria feita através de débito na minha conta telefônica. A dona da doce voz me abençoou com todas as bênçãos celestiais, gastando mais tempo para isso do que para conseguir os dados que efetivariam minha doação. Desliguei o telefone. Me sentia bem por ter feito uma caridade e milagrosamente abençoado. Dias depois, a doce voz volta a me ligar para, além de rogar novas bênçãos sobre mim, agradecer pela primeira doação e “sugerir” que eu me tornasse um doador efetivo e constante. Nesse dia não podia falar por que estava muito ocupado e pedi que retornasse a chamada em outro momento. Depois de inúmeras tentativas de falar comigo, outra pessoa – essa, por sua vez, mais séria e menos encantadora, embora com a mesma proposta – me disse que queria confirmar os dados que faltavam para registrar a doação. Não aceitei. Disse que não tinha mais interesse em ajudar. Prontamente, a voz do outro lado me disse: - Nós vamos estar retirando (sic) o seu nome do nosso cadastro. Obrigado, tchau.

Fiquei esperando, no entanto, a bendição. Onde estava a enxurrada de bênçãos celestiais? Elas só viriam se eu contribuísse financeiramente com a instituição? Foi ai que caí na real: lembrei com quem estava lidando e eles são todos iguais, só muda a placa.